quarta-feira, 13 de novembro de 2013

The Rock

A semana passada estive em La Linea de la Concencion. Uma cidadezinha andaluza sem grande interesse fora da época balnear. Tirando uns bares de tapas, resume-se a zonas industriais, bairros de casas baixinhas de pescadores de atum, traficantes de haxixe e operários da gigante refinaria da Cepsa, ali ao lado. Em qualquer rua desta cidade os olhos fogem sempre para o mesmo sítio, The Rock, o imponente e majestoso rochedo de Gibraltar. É impossível ficar indiferente ao calhau de calcário branco que domina o estreito. Um dos pilares de Hércules. Do seu topo avistam-se dois continentes, três países e dois oceanos.
Nu de vegetação com forma piramidal, cai para o lado de África, a sul, de forma abrupta e vertical por 400m de altura, e para o lado de Algeciras, a norte, de forma mais suave e cheio de vegetação.

Os primeiros pensamentos que assolam um escalador são mais que óbvios, quero escalar aquilo, mas das pessoas com quem falei nenhuma mostrou interesse na escalada, que era proibido, que a rocha estava decomposta e era necessário uma autorização especial, parece-me que tudo isso é verdade, o que até me faz aumentar a minha vontade, mas isso será para uma próxima, de qualquer forma, não era esse o intuito da minha passagem por aqui. 
Os segundos pensamentos que assolam um viajante são também óbvios: ali é outro país, ali está uma fronteira, ali já não é Andaluzia, ali são terras de sua majestade.
A ultima fronteira na Europa.
Há uns bons anos atrás já lá tinha ido, fui lá comprar resina epox para reparar um barco, quando por aqui andei embarcado. Lembro-me de estar a passar a fronteira e ver montes de gente a passar as redes de arame farpado com grandes sacos de plástico preto. Era tabaco, custa metade do preço do lado de lá. Ainda assim é. Embora desta vez não tenha visto ninguém a passar a rede, vi uma moça a esconder volumes de tabaco dentro do carro. Os combustíveis são também mais baratos. Os preços são marcados em libras e em euros e o euro circula tal e qual como lá fora, da última vez lembro-me que paguei em pesetas e recebi o troco em libras... 
Pois ali do outro lado moram 30 mil almas, segundo consta há 65 mil empresas sediadas!!! um paraíso fiscal, certamente.


O território não chega a ter 7 km², consta que compram pedra no Algarve e vão aterrando o mar para alargar a cidade e desta forma roubar mar à Espanha. A relação sempre foi muito tensa entre os dois países. O território foi cedido à coroa britânica em 1713  como parte do pagamento da guerra da sucessão espanhola
"… a total propriedade da cidade e castelo de Gibraltar, junto com o porto, fortificações e fortes … para sempre, sem qualquer exceção ou impedimento." Ainda assim os espanhóis reclamam o território.... acho que não podem falar muito porque ali ao lado estão de pedra e cal em Ceuta e Melilla.
Também o futebol tem dado que falar ultimamente, a selecção de Gibraltar foi recentemente admitida na UEFA como membro de pleno direito (com uma forte oposição da real federação espanhola de futebol) a questão é que o seu pequeno e único estádio, que recebe em média 4 jogos por fim de semana, só tem capacidade para 2500 espectadores, muito aquém do definido pela UEFA. A solução provisória que encontraram foi adoptar o estádio do Algarve como estádio nacional, pelo menos até construírem novo estádio que esperam estar pronto em dois anos. 'Tá claro que os espanhóis não estiveram dispostos a emprestar um estádio. Assim, vão utilizar o do Algarve que estava às moscas e podem trazer todos os habitantes do território que não enchem o estádio. (Somos mesmo uma grande nação futebolística).
Quando se passa a fronteira, a única estrada atravessa a pista do aeroporto a meio, assim que, sempre que aterra ou descola um avião, a cidade é encerrada.








O trânsito é um bocado para o caótico, muitos carros e pouco espaço, estacionar é muito difícil, parece que todos os lugares têm dono e os carros são geralmente bastante amolgados ,fruto das passagens estreitas frequentes. 
Estava concentrado no ponto de embraiagem, parado numa subida, obras ao meu lado e carros mal estacionados, as mães recolhiam os filhos que vinham da escola, com uniformes de escola. Uma senhora pára no meio da estrada e fala aos berros com uma amiga do outro lado no passeio, combinavam um chá. Ao meu lado uma tia tenta fazer marcha atrás com o seu carro e no meio da confusão solta um estridente fucking hell... e tudo rapidamente se organiza e volta ao seu ritmo de cidade.
Judeus e Mouros aqui vivem pacificamente e em 2009 até um ministro espanhol cá veio, e eu que também já cá vim duas vezes. E pronto não me ocorre mais nada para dizer sobre Gibraltar.


Também há bocadillos, mas fish & chips é mais autêntico.


A rocha continua lá, é só atravessar a estrada.




Ah, também há por lá macacos, os Barbary macaques. Infelizmente não vi nenhum. São os únicos macacos que vivem em estado selvagem na Europa e esta espécie só existe em mais algumas zonas restritas do Atlas Marroquino. Diz-se que enquanto os macacos viverem em Gibraltar este continuará sob o domínio britânico. Durante a II guerra mundial Churchill, com medo de uma possível invasão, mandou trazer várias dezenas de macacos de Marrocos para assegurar a soberania britânica. 


Passam 85000 navios por ano no estreito de Gibraltar.

Marrocos por trás da neblina.

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