segunda-feira, 26 de novembro de 2012
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Patrick c`en va...
Este fim de semana morreu Patrick Edlinger. Um dos mais famosos escaladores do anos 80 e 90, pioneiro da escalada livre de dificuldade. Figura emblemática que marcou toda uma geração com o seu conceito escalada como forma de vida. Para mim ficam as recordações da minha adolescência, as fotografias nos catálogos da Petzl e principalmente um filme que consegui gravar durante as matinés experimentais do canal SIC. Arrow Head gravado numa velhinha cassete VHS, que vi vezes e vezes sem conta, sabia de cor as frases, a banda sonora e principalmente os movimentos de escalada do grande bailarino da rocha. deixou-nos prematuramente aos 52 anos de idade. Descansa em paz.
E o melhor dos filmes de Patrick Edlinger, é este:
La vie aux bout des doigts
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
A pena do meu Pai. Parte 3
A viagem ao Cáucaso, pela pena do meu Pai, que escreve muito melhor que a minha.
In: Jornal de Minde. Out2012
É já ali
… ao dobrar da esquina
GUARDIÕES DA LEI
Fartos de pagar portagens já que, sem isso, a cancela não
abria, ao terceiro dia chegámos
à Eslovénia. Não vimos cancelas, os carros ligeiros eram
encaminhados para a pista da
esquerda através de sinais no chão e o caminho estava
sempre aberto. Pela direita iam os
camiões que tinham cancela. Interessante, neste país os
turismos não pagam portagem.
Mal tínhamos chegado a esta conclusão e já o país estava
a acabar.
O guichet do costume… onde é que está a vinheta?
-Qual vinheta, qual carapuça?
Multados em trezentos Euros porque devíamos ter adquirido
a vinheta ao entrar no país.
- Nós não sabíamos, ninguém nos avisou, lá donde a gente
vem esses papelinhos servem
para outra coisa, além disso vocês são maçaricos na
Comunidade Europeia, nós já cá
andamos desde o tempo dos nossos avós… onde é que está o
papelinho, que nós vamos lá
comprar…
-Isso era 100 metros mais atrás, agora paga e não bufes!
O Ricardo usou as técnicas todas, lá conseguiu um
desconto de 50%, pagando ali na hora,
em dinheirinho trocado.
A partir daí, passámos a andar atentos à vinheta. Isto
até ao fim da Bulgária, porque,
depois disso, mais de mil quilómetros de Turquia, ora
auto-estrada ora não, uma boa parte
estava em obras, nem pagámos nem ninguém nos incomodou.
Sem auto-estradas nem GPS, na Geórgia e na Arménia
orientávamo-nos por mapas. Meia
volta, tínhamos de pedir informações, coisa complicada
quando não se sabe nem uma
palavra da língua. Cruzamentos, hesitações, há um grupo
de homens na beira da estrada…
-Alavérdi? – perguntamos nós, e apontamos a direcção da
estrada.
Torceram o nariz!
… Alavérdi ? – volto a repetir…nada!
Até que um descobriu a pólvora…
… Alaverdí ?
Rimo-nos. Para nós era a mesma coisa. Por acaso até íamos
bem.
O Ricardo contou que, uma vez, no Porto, onde esteve a
trabalhar, parou um tipo que
conduzia um camião e perguntou o caminho para Lecsoés.
-Lecsoés?
O homem tinha a certeza, mostrou no mapa…
- Ah, pois, Leixões… é sempre em frente!
Mais adiante chegamos a um
entroncamento…hesitamos…entramos para a esquerda,
damos pelo erro, meia volta ao volante e zás, estamos na
direcção certa… e lá ao fundo
um guardião da lei já com a mão no ar.
-Tamos a contas…
Quando paramos ainda tento disfarçar...
-Alaverdí ? – e com a mão… é por aqui?
O tipo faz um sorriso bacana (- b, + s…) e até parece que
falava a mesma língua que eu…
-É por aqui, sim…e a manobrazinha lá atrás?
O Ricardo sai do carro, põe-lhe a mão no ombro, puxa-o
para a beira da estrada, eu fico a
ver a técnica.
Tenta amolecê-lo, o tipo é mais duro que um calhau, diz-lhe
que já andamos há muito na
estrada…que não temos dinheiro, só estas duas notinhas
vamos a caminho da fronteira, já
não podemos cambiar, e porque torna e porque deixa…mas
tem uma magnífico souvenir
para lhe dar, trazido do mais longínquo ocidente, e tal e
coisa…
Parecia um minderico a vender uma manta na feira de
Montemor.
O homem começa a ficar mais manso, o Ricardo vem ao carro
e lá vai um magnífico relógio
dos tais do chinês. O homem agarra o relógio, a princípio
desconfiado, depois encantado...
o Ricardo vai para se despedir, mas o tipo segura-o pela
manga:
… as duas notinhas também! (não valiam nem 10 cêntimos)
O Ricardo dá-lhe as notas meio contrariado, volta ao
carro e arranca à pressa.
-Vais a fugir, enganaste o homem!
- Vou a fugir mas é dos colegas dele, antes que venham aí
todos à cata de um relógio…
Dois dias depois, estamos na Abkásia.
Entramos no território sem saber ler nem escrever, graças
a um papel que o Ricardo
conseguiu em Lisboa através de uma Agência de qualquer
coisa. Escrito em russo e
cheio de carimbos. Nem sabíamos que aqui a moeda é o
rublo. Sábado, casas de câmbio
fechadas, amanhã é domingo, nem cinco reis para comprar
pão ou beber uma cerveja. Na
entrada dizem-nos que temos de ir à capital para obter um
carimbo e depois sair por onde
entrámos. Mas só na 2ª feira, que amanhã é domingo, o
Ministério está fechado…
E nós que queríamos era atravessar o país e sair pelo
outro lado para a Rússia. O contrário
pode atrasar-nos uma boa meia dúzia de dias.
Já no dia seguinte, seguíamos para norte, fomos apanhados
num limite de velocidade.
A técnica do costume, o Ricardo sai do carro, inicia as
negociações, aproveito para ir aliviar
a bexiga atrás duns arbustos.
Quando regresso, há 3 ou 4 polícias de volta do Ricardo
como se ele tivesse caído do céu –
só faltava dizerem: - Os deuses devem estar loucos!
…sou o pai daquele sucesso todo, envolvem-me na festa. A
multa está perdoada, aquele
polícia que está ali já esteve em Tenerife e Marrocos...
- Ah pois, Marrocos, conhecemos muito bem, são nossos
vizinhos, é porta com porta!
... e mexe num computador, enquanto os outros olham para
a maquineta como um boi
para um palácio. Levou-nos para um gabinete, mandou-nos
sentar, os outros espreitam do
corredor ou lá de fora pela janela.
…no computador, entra em contacto com uma namorada que
fala inglês e trabalha numa
qualquer repartição, tem mais namoradas na rede de
contactos. A rapariga teclava de
lá, o Ricardo teclava de cá, mas o polícia queria que a
namorada fosse traduzindo para
russo, não fossem os estrangeiros combinar com ela algum
esquema que lhe fizesse
nascer algum apetrecho na testa. Ela traduzia para russo
mas ambos tinham que mudar no
computador os caracteres romanos para os cirílicos e
vice-versa…
A rapariga perguntou que documentos é que tínhamos, o
Ricardo lá lhe respondeu e ela
disse que, com esses documentos, não via razão para não
nos deixarem sair para o lado
da Rússia. Sobre cambiar dinheiro – aí o meu amigo
explica… há uma localidade com um
mercado, há lá quem cambie dinheiro mesmo ao Domingo.
Ficámos radiantes. O Polícia explicou, mas queria voltar
a ver-nos quando voltássemos.
O mercado era maior que a feira de Serpa, o dinheiro
cambiava-se nas padarias – vá lá a
gente saber porquê! Levaram-nos a uma onde havia três
senhoras novas na cuscuvelhice.
Quando falámos em Portugal…Cristiano Ronaldo, Mourinho,
toda a gente conhecia…uma
delas disse logo: Levem-me com vocês! (a gente até lhe
fazia o jeitinho, mas o carro só
tinha dois lugares…)
Lá nos cambiaram o dinheiro e voltámos ao polícia que
queria pôr-nos a par das suas
grandezas. Era a única pessoa na Abkásia que tinha um
camelo de duas bossas. Não
percebi muito bem para que era o camelo...mas mostrou-nos
no computador a foto dele
ao lado do camelo. Também tinha o penúltimo modelo dos
Lamborghini (ou uma marca
dessas, da gente fina) e lá estava ele ao lado da máquina
(acho que as fotos tinham sido
tiradas numa rua qualquer de Tenerife ou Marrocos, mas
quem era eu para contradizer
um indivíduo que nasceu na Rússia, foi cidadão da Geórgia
e é polícia da Abkásia… são
títulos a mais, a gente tem de ter respeitinho…)
…aproveitámos para lhe pedir o contacto, para o caso de
virmos a ter algum problema
com polícias na Abkásia... ou na Rússia, ou em Tenerife
ou em Marrocos, tudo sítios que
ele conhecia e onde tinha namoradas. Escreveu num
papelinho… nós não entendíamos
nada do que lá estava escrito, mas, com o papelinho no
bolso, parecia que tínhamos
abertas todas as portas deste mundo e arredores.
Mais uns quilómetros de estrada e estávamos na fronteira.
Apresentamos os papéis, dão
uma vista de olhos e mandam-nos seguir.
…não posso acreditar…
Seguimos na bicha, mais adiante outro guichet…. isto já é
Rússia…adeus Abkásia, qualquer
dia volto cá, a ver se o polícia já é dono do Mar Negro.
O polícia seguinte já foi na Hungria.
…alto, espadaúdo, a tresandar a autoridade, a meio
quilómetro de distância já se via a
mão no ar.
Eu ainda não contei que a nossa carrinha teve uns
problemas pelo caminho, e daí, às
tantas, ficámos sem médios. Buscas e mais buscas,
fusíveis, ligações, cabos... resolvemos
o problema passando um cabo que ligava ao suporte de um
dos médios, e vinha ter junto
aos pés do condutor. Ligava-se com uma ficha à tomada do
isqueiro e funcionava… na
perfeição! – como dizia aquela do anúncio. Era o pendura
que se encarregava da manobra
sempre que se fazia noite ou quando passávamos algum
túnel.
…pois o polícia húngaro começou por meter a mão pelo
vidro da janela do condutor
(pensei que o Ricardo ia levar um puxão de orelhas!) e
ligou, com toda a sua autoridade, o
comando dos faróis. O Ricardo deu-me um toque na perna.
Discretamente meti a ficha no
isqueiro enquanto o polícia ditava a sentença:
- Aqui é obrigatório andar com os faróis acesos. (mal ele
sabia que fui eu que os acendi!)
O Ricardo conta muito bem esta história no seu blog
“estoupraver.blogspot”:
“ Vais ter de me pagar 200 €, dizia ele em Húngaro! Eu
respondi-lhe em Português - amigo, eu
como polícias como tu ao pequeno almoço há três
semanas... depois em Inglês disse-lhe que
não tinha 200€ nem nada que se parecesse, contei-lhe a
nossa viajem e a meio de enumerar
todos os países por onde havíamos passado nos últimos
dias ele já deitava a conversa pelos
olhos. Aproveitei a deixa arranquei-lhe os meus
documentos da mão e troquei-os por um
magnifico relógio de 3€. O bom homem riu-se, meteu o
relógio ao bolso e disse-nos adeus, ali
mesmo nas barbas do Durão Barroso!”
O próximo polícia foi já em Portugal, mal entrámos em
Vilar Formoso. O tipo queria à viva
força que o aparelho de soprar funcionasse, mas ou era do
aparelho ou era do meu fôlego,
aquilo nem chus nem bus. Finalmente deixou descansar o
aparelho e eu descansei também.
Quando me mandou soprar outra vez, parecia um vendaval.
Lá acendeu o verde. Também,
o último toque em álcool fora um copo de cerveja pouco
maior que um dedal, em
Espanha, uma hora antes.
-Façam boa viagem!
-Obrigadinhos a vossência, e até mais ver!
Têm nível estes polícias europeus, mas não chegam nem aos
calcanhares do polícia
da Abkásia – conhecia Tenerife e Marrocos, manobrava um
computador, tinha não sei
quantas namoradas, um camelo e um Lamborghini!
…e chamam àquilo um país arrasado pela guerra!
…é proibido tirar fotos a polícias, embaixadas, postos
fronteiriços e coisas desse género.
Daí, esta crónica não tem fotos para exibir. Também não
tinha espaço nesta página. Vou
colocar alguma tirada por lá, noutra página qualquer.
Onde der mais jeito…
A Nogueira
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