sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Best of 2012. Do boom à Maratona.

'Tá de resto o 2012 e aqui fica o resumo. Não podiam ser mais antagónicos os locais e os ambientes por onde andei... Do festival BOOM à Maratona de Lisboa, da Arménia à Mauritânia, de Bamako a New York, de Istambul a Nouakchot, da Transilvânia ao País Dogon, dos Picos da Europa a Brooklyn,
um ano cheio de coisas fixes, festas, viagens, amigos, escaladas, corridas e muito amor e este blog para deixar o registo e ajudar a memória... o facto de ser público é só um bónus.
Estive em 25 países diferentes dos quais 13 onde nunca tinha estado... Duas mega viagens de carro num total de 22000 km. Fiz 50 km de canoa no Tejo internacional e 80 no Sado, fui aos Picos da Europa e falhei a via ao Naranjo, corri os 42 km da Maratona de Lisboa, os 20 km de Almeirim, os 10 do Urban Night Trail e os 21 do Leiria Christmas Night Trail e mais cerca de 800 km de treinos...
2012 foi um ano muito bom. 2013 será melhor ainda.
Feliz ano novo!!


Bye bye miss American Pie, 8 minutos de música e 400 imagens!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O hino dos viajantes aventureiros

O B-Fachada juntamente com alguns amigos recriaram  "Os Sobreviventes" o primeiro álbum do SG de 1972 e lá está "Romance de um dia na estrada" uma canção que eu adoro e que sempre me transportou para ambientes longínquos, carregados de fantasia e do espírito romântico e abnegado do aventureiro. Um hino à aventura, à vontade de partir e ao conforto e aconchego de chegar. Muito bom ☺



Mas não bate o original!

Colecionismo

Sempre gostei de colecionar coisas, ou melhor, juntar coisas, a maior parte das vezes sem grande critério. Pedras, latas, garrafas... Quando viajo chego a ser compulsivo com rótulos de garrafas e bilhetes de transportes e outras coisas. Com a era digital comecei a fotografar coisas que não servem para nada a não ser ocupar espaço em disco. Sinais de trânsito, paragens de autocarros, quartos de hotel, carros... Há dias em New York deu-me para isto. Agora vou ter de lá voltar para acabar a colecção, 50 estados cada um deve ter uma matricula diferente... faltam 40 fotos.














quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A pena do meu Pai. Parte 4

A viagem ao Cáucaso, pela pena do meu Pai, que escreve muito melhor que a minha.
In: Jornal de Minde. Nov2012

É já ali…
ao dobrar da esquina


SINGULARIDADES DA ARMÉNIA
Na manhã de 11 de Julho, o 12º dia de viagem, e já com 7271 Kms andados, saí cedo da caravana improvisada. As melgas tinham-me azucrinado toda a noite e precisava de me coçar.
O dia anterior acabara mal. Pensávamos chegar a Yerevan, capital da Arménia, e descobrir um hotelzeco para tomar um bom banho. Da língua dos arménios não sabíamos nem uma palavra e os caracteres ninguém os entende, mas tínhamos esperança de encontrar o que se vê em muitos países – por debaixo do reclame na língua do país, a palavra Hotel, mais conhecida internacionalmente. 
Pois não senhor. O único “Hotel” que vimos era um daqueles que tem só um quarto e só uma cama…. e muitas figuras nuas pregadas na parede… O Ricardo, que entrou sozinho enquanto eu fiquei a guardar o carro, ainda quis saber o preço, mas a patroa perguntou se era só para uma hora. 
Com tanto percorrer ruas fez-se noite. Apercebemo-nos de que já estávamos a sair da cidade e que se via mal. Uma espreitadela, o carro não tinha médios – só um mínimo e máximos.
-Encosta aí, esquece o hotel e é aqui mesmo que ficamos. Uma noite não são noites! De manhã, depois de coçar as melgas e de uma higiene sumária, cuidámos de avaliar a situação. O GPS não funcionava desde que saíramos da Turquia e, com as voltas à noite, tínhamos perdido a orientação.  
Uns metros mais acima estava um motorista de táxi a lavar o carro.
-Boa ideia, com o mapa tentamos que ele perceba qual é a direcção que queremos seguir e que nos indique a melhor saída da cidade. Em último caso ele que vá à nossa frente!
O homem foi atencioso, percebeu rapidamente o nosso problema e fez-nos compreender que estávamos no sítio certo – era mesmo por ali que devíamos seguir.
-Que raio, é o homem que percebe o nosso mau inglês ou somos nós que falamos arménio sem saber? Talvez os leitores não saibam, mas o ponto mais conhecido da Arménia é… é o quê?
…é o Monte Ararat, é evidente, aquele aonde a Bíblia diz que encalhou a arca de Noé depois que as águas do dilúvio foram descendo…
…Vocês não acreditam nisto, pois não?
…pois olhem que o problema é muito mais complicado do que parece. Talvez eu tenha por aí espaço para escrever alguma coisa sobre essa matéria. Se não, fica para outra vez!
Para acabar com as dúvidas e termos a certeza de que o homem estava a falar a sério perguntámos:
-E o monte Ararat?
E não é que o homem nos faz entender que sigamos por aquela estrada, que, uns 500 metros mais adiante, já vemos o Monte Ararat?...
Meio convencidos, agradecemos, despedimo-nos como pudemos e o homem responde:
-Auf widersehen…
Aí, a nossa admiração foi ao rubro. Auf Widersehen é alemão e significa: Até à próxima! 
O homem certamente andou cá por estes lados e lá se apercebeu de que, mesmo não falando nós alemão, sempre devíamos entender melhor do que em arménio.
Umas centenas de metros mais adiante lá estava ao fundo o Monte Ararat. Tal qual como nas imagens que tínhamos visto na internet. O grande Ararat com os seus 5156 m de altura e, um pouco à esquerda, o pequeno Ararat que se fica pelos 3914. Estávamos longe, a uns bons 60 Kms, e não estava nos nossos planos chegarmos mais perto… mas não há dúvida de que é uma visão inconfundível. No meio do imenso planalto que é a Arménia destacam-se aqueles morros que, à distância a que estávamos, até parecem pequenos, coroados no pico pela brancura da neve eterna.
Encostámos a carrinha, saudámos o gigante e pedimos licença para o fotografar. Ele não respondeu nada. Ou só fala arménio ou então está tão farto de ser fotografado por máquinas do último modelo que nem dá pelos nossos equipamentos de bolso. Foi um fartote de fotografias, mas são todas iguais. Dum morro a 60 Kms de distância, com mais ou menos zoom, em automático ou manual, tudo o que se possa tentar não faz grande diferença.
Depois destas duas aventuras parecia que o dia estava ganho, mas muita coisa nos esperava ainda. Seguimos a rota que tínhamos planeado a caminho de Nagorno Karabach e ao princípio da tarde estávamos a chegar à capital do território que, além dos habitantes, ninguém conhece como país.
O nome significa qualquer coisa como Jardim montanhoso. Montanhoso é, de facto…jardim, bom, é muito verde, mas o caminho, subidas e descidas a pique, curvas e contracurvas a seguir umas às outras não dá para apreciar grande beleza. Mas a capital é bonita. Espreguiçando-se numa imensa colina voltada para o sol, avenidas largas à boa maneira soviética, árvores e jardins… claro que as traseiras escondem o que não se quer mostrar, mas aonde é que isso não acontece?
Deu para entender porque é que este povo rústico, montanheiro, perdido no cabo do mundo, num sítio aonde ninguém se atreve a chegar, se esforçou tanto para não ficar sujeito ao vizinho Azerbeijão aonde interesses alheios o tinham colocado desde os anos vinte do século passado. É que os habitantes são uma colónia de arménios que aqui se fixaram há um ror de séculos e em cada arménio se sente o orgulho de pertencer ao país que primeiro aceitou oficialmente o cristianismo, ainda antes do Imperador Constantino em Constantinopla. Segundo a tradição, o cristianismo chegou aqui pela palavra dos dois apóstolos S. Judas Tadeu e S. Bartolomeu. A nova religião seria oficialmente aceite em 301. Daí a igreja local intitular se Igreja Apostólica Arménia. Todos os vizinhos são muçulmanos, nomeadamente os azeris do Azerbeijão. Separados da Arménia já desde 1923 pela mão de Estaline, quando a URSS se dissolveu e o Azerbeijão reclamou a independência com base nas fronteiras estabelecidas por Estaline, estes arménios declararam não aceitar mais essa submissão ignóbil que os separava do seu povo, das suas raízes e da sua crença.
Pegaram em armas.
Um carro de combate estrategicamente colocado no alto dum morro lembra ainda hoje o esforço de guerra que fizeram até se negociar o cessar fogo. Nenhum país até hoje reconheceu a sua independência, nem sequer a Arménia, que, apesar de tudo, foi o único vizinho que manteve uma porta aberta para se poder entrar ou sair do território. Tal como os restantes arménios, emigram para todo o mundo à procura de trabalho. A passearem nas ruas da capital, num fim de tarde dum dia quente, são grupos e grupos de raparigas. Os rapazes seus amigos, ou irmãos ou namorados, estarão a pensar nelas, mas a muitos quilómetros de distância. Celebraram a sua independência com setecentos casamentos simultâneos. As fotos estão expostas num dos edifícios governamentais por onde passámos para nos carimbarem o documento que recebemos à entrada e entregámos à saída.

Estando fechada a fronteira do outro lado, através da qual poderíamos entrar no Azerbeijão, lá se foi a nossa hipótese de sair por aí, e, com mais uns 600 Km, seguir até Baku, nas margens do Mar Cáspio, a última fronteira dos sonhos do Ricardo.
-Deixa lá rapaz, algum dia terás tempo de cá voltar!
Regressámos à Arménia, mas logo adiante seguimos por outro caminho contando entrar no dia seguinte novamente na Geórgia e visitar a capital, Tbilisi! Tínhamos atingido o ponto mais longínquo da nossa viagem, estávamos a iniciar regresso.
Boa sorte “nagornocarabaquenses” e “auf widersehen” como se despediu o taxista na saída de Yerevan!
A Nogueira

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

E tu, já correste uma Maratona?

Eu já!! :) e foi ontem.

Ganhei uma medalha, uma t-shirt e um andar novo! Hoje não consigo dobrar os joelhos...
Pois, ontem corri a 27ª edição da Maratona de Lisboa. 1891 atletas inscritos para os 42,195 Km mais famosos do desporto. A prova começou e acabou no estádio 1º de Maio, um friozinho de rachar na partida, que foi muito emocionante... a mim quase me vieram as lágrimas aos olhos, não sei se do frio, da bebida energética que tomei, se dos tambores a rufar alinhados na linha de partida se do meu estado de excitação. Deve ter sido tudo misturado.
Com o entusiasmo só dei por mim a chegar ao quilómetro 10, tinham passado 47 minutos. Vi logo que tinha feito asneira, estava a correr demasiado rápido e ia pagá-lo no final da prova. Concentrei-me ao máximo para manter um ritmo mais baixo e poder chegar ao fim. E lá foi atrás dos outros... a ver os rabos, a ver os prédios, a ouvir os comentários dos outros, os aplausos do apoiantes nos passeios, o meu coração a bater, a sinfonia das escarretas dos atletas... a fazer os possíveis para ter a mente longe dali e relaxada, para não ligar aos murmúrios que começavam a aparecer no joelho esquerdo e que bem sabia que dentro de uma ou duas horas seriam insuportáveis, assim como a dor na planta do pé direito que a cada passada ia segredando aos nervos da perna, pela coluna vertebral até chegar ao meu cérebro... 10 km, 15 km tranquilo, bela corrida... aos 17 km toca o telefone, estou a chegar ao Marquês, recebo um convite para almoçar do amigo Rui. Maravilha, o sol, o ar frio nos pulmões, o transito está cortado, o Marquês e a Avenida cheia de atletas... quando dou por mim estou no Terreiro do Paço, 20 Km, a calçada nova do chão faz acordar o  murmúrio do joelho e o pé direito desata a ralhar com os nervos da perna... é aqui, percebi imediatamente... aqui acaba a zona de conforto, é a partir daqui que se realizam os sonhos... aguenta! Cais do Sodré, Jardim de Santos, dor! afasta os pensamentos o mais que possas... dizia-me o anjinho que corria ao meu lado. Quantos episódios vivi por estes lados ao longo da minha vida...  dor! tento recordá-los e pô-los por ordem cronológica. 24 de Julho, Alcântara, Ponte, quilómetro 25, dor.

Em sentido contrário, passam os primeiro atletas. Isolado, o primeiro da Maratona por estafetas, depois os candidatos aos primeiros lugares, a primeira mulher, que ar tão fresco e saudável, dor! Jerónimos! agarro o telefone e ligo ao meu Primo Miguel. Tínhamos combinado que ele estaria por ali para fazermos os últimos 15 km juntos, não conseguia pensar em mais nada, como se ele me fosse carregar às costas. Os meus olhos vasculham em redor à procura do salvador Miguel.... do outro lado ele atende o telefone e diz, - não consegui passar.... estou ao pé da ponte! dor, dor, muita dor! - Ok Miguel, até já. A corrida inverte o curso, alguém ao meu lado diz - agora é só voltar para casa. Sim é isso, agora é só voltar para casa... mas a Ponte ainda está tão longe...
30 Km, quantos faltam? o meu raciocínio já não está normal... os pensamentos estão a ficar espessos... Dos 12 km/h do princípio da prova já me arrastava a 8 km/h. Por fim lá aparece o Miguel e houve um salto no tempo, a conversa distraiu-me e num instante estávamos a pisar a calçada do Terreiro do Paço. O quilómetro 37 aparece no início da Almirante de Reis. Faltam 5, é ir ao fim da Mata... Tinha a prova como concluída, não sei porquê mas tinha metido na cabeça que se chegasse à Almirante  Reis a prova estava feita... mas a Avenida é gigante, sempre a subir, os quilómetros estavam cada vez maiores, a Praça do Areeiro estava sempre no mesmo sítio, teimava em não se aproximar. Só me lembro de ver umas pernas com umas meias coloridas a passar por mim, era sempre o mesmo par de meias, passou várias vezes por mim... - já estou alucinar! ah, ok... o dono das meias ía correndo e andando de maneira que eu passava por ele quando ele andava, mas só o via quando ele passava por mim. Quando finalmente chegamos ao Areeiro, percebi que era truque da cabeça do Sá Carneiro, pendurada na estátua, ria-se de mim às gargalhadas. Quilómetro 40, os últimos quilómetros estão de certeza mal marcados! motivo mais que suficiente para queixa à organização. Avenida de Roma, quase me vinham as lágrimas aos olhos, o joelho e o pé já não chateavam misturado com o resto das dores e cãibras nas pernas todas, estas pernas não são as minhas... isto foi cena do Sá Carneiro... ao mesmo tempo tinha uma sensação engraçada, desde o início da Almirante Reis, como se a hipótese de desistir tivesse deixado de existir, agora não há nada a fazer, tenho de chegar ao fim, a sensação que se tem no ar quando se salta da prancha da piscina. E lá cheguei ao Estádio, a meta era só depois de dar uma volta à pista de tartan, coisa que apesar de muito gloriosa era perfeitamente dispensável, só queria parar... e nem foi muito emocionante acabar a prova, o melhor foi um copinho de chá quente que me deram depois da meta e o muitos parabéns que me deram os outros atletas que ali estavam. Parabéns era a palavra de ordem que reinava por ali. Os parabéns que souberam melhor foram os do Miguel, acho que sem ele a história tinha sido bem diferente. Muito obrigado, Miguel.

O Gregos a quererem-me apanhar! sem hipótese.




Agora sou MARATONISTA. Respect.




Resta-me dizer que demorei 4 horas e 17 min para fazer a prova e fiquei na posição 1182. Ganhou um atleta Russo Oleg Marusin, com 2h e 19 mim, ou seja, quando eu acabei a prova já ele estava a dormir a sesta depois de ter almoçado. Com 2h e 45 min chegou a primeira mulher, a Portuguesa Anabela Gomes, do Grupo Desportivo Joaninhas :)
Anabela Gomes. Ri-te, pá!
O ultimo a chegar foi um atleta Inglês de seu nome Ivor John Davies com 6h e 8 mim, já eu tinha almoçado e estava às voltas no sofá. Atenção que este senhor tem mais de 60 anos. Havia muitos camones, mesmo muitos e muitos com idade bem avançada... acho um espectáculo os velhotes a darem cartas nestas provas e houve muitos cabelos brancos a passarem por mim... também há muita gente que faz das Maratonas uma forma de viajar e conhecer países, vê-se pelas t-shirts que vão correr a todo o mundo. 
2013 vai ser o ano do Trail Running, o desporto da moda, eu e o Miguel já estamos inscritos em dois ultra trails e noutras provas mais curtas.

E tu, já correste uma Maratona?

...estoupraver...