quarta-feira, 3 de outubro de 2012

As marés do Sado



Na sexta feira passada, ao fim da tarde, encontramo-nos no porto de abrigo de Sesimbra. A maré ainda subia e umas nuvens ameaçadoras a começavam a chegar.
A canoa levou palamenta marítima, câmaras de ar entaladas debaixo dos bancos para aumentar a flutuação em caso de alagamento.

Alguns habituês nestas andanças.

Pusemos as tralhas nos barcos e estes na água e, assim que zarpamos, o céu desabou em cima de nós ao mesmo tempo que a noite caía.
O fim de semana promete... a começar da pior forma. Lá fomos pagaiando em direção ao mar escuro debaixo de chuva intensa...
Tínhamos previsto dormir numa pedra no início da Arrábida. Um pouco às apalpadelas demos com a pedra, mas a maré demasiado baixa não nos permitiu subir. Assim continuamos a remar até encontrar outro sitio.

Na falésia, com mais de 100m, nota-se uma enorme derrocada... ainda bem que não estávamos lá na altura em que caiu.





O primeiro camping, no sitio possível! 
Chuva e vento toda a noite... dentro de tenda abrimos uma garrafa de tinto e guisamos umas ervilhas com chouriço, secamos a garrafa, o corpo e a alma.
Sábado amanheceu glorioso!

Arrábida, esmagadora!


Fojo e Pinheirinhos,  aventuras verticais.






Portinho da Arrábida.




A «escançar um cadinho».




Rumo a Tróia.

A entrada da barra de Setúbal é um 31 para a minha canoa. É a terceira vez que aqui passa. Passa-se do Hospital do Outão a direito para Tróia  mas a zona têm muitas correntes fortes e desta vez a ondulação estava terrível... a minha canoa gosta de águas mais calmas de maneira que foi bastante complicado passar. Por diversas vezes vi o caso mal parado, com a canoa a virar-se ou a ficar alagada, o meu coração ia aos pulos! mas lá nos safamos. Os outros barcos, kayakes de mar,  passam ali como se nada fosse. Cada macaco no seu galho, ou como diz um amigo meu, ovelhas não são para mato ☺


Já tudo calmo, depois de Tróia, na Caldeira.


A Isabel e o Cândido, o meu companheiro de canoa.

Cerca de 17 km em 3 horitas. Entre o sitio onde dormimos e a Caldeira.
Na praia, o que resta de um Galeão do Sado.

É nisto é que somos bons.
Os Roazes vieram ver o que se passava.


Na roça com os tachos.




A seguir ao repasto, enquanto esperávamos pela próxima  maré, houve tempo para a sesta e para visitar as antigas ruínas Romanas de Tróia, monumento nacional desde 1910, foram um importante pólo industrial de conserva de peixe. É muito interessante.
Isto de Tróia ser só para os ricos, não é uma ideia recente! A zona de banhos aquecidos era só para alguns.



Muito entendidos, o Cândido o Zé Mindrico, que de Mindrico só tem o apelido, e o Pedro "Saca", mais dois ilustres Setubalenses companheiros de pagaia.



A sombra de um romano na areia.

Dormir a sesta e secar cuecas ao vento...





Ao entardecer apareceram andorinhas-do-mar, a dar-nos uma lição de pesca, mesmo à nossa frente a dar mergulhos fantásticos para pescar.





Sopinha de bacalhau para o caminho.


A maré encheu toda e voltou a vazar, sem dúvida que há mais marés que marinheiros!
Às 7 da tarde, empurramos os barcos para água e fizemo-nos ao rio. A força da corrente era fortíssima, uma ligeira vaga pela popa e aí fomos nós a deslizar a grande velocidade, lua cheia, brisa fresca. Só na natureza se podem conseguir momentos tão agradáveis. 
Mas a noite foi arrefecendo, a pagaia foi ficando pesada... e passado umas horas os momentos agradáveis ficaram um tormento, o Rio é cheio de caprichos... canais de águas baixas onde só se passa com a maré bem alta, correntes, cabeços de lodo... à uma da manhã chegamos ao nosso destino, cansados, gelados mas contentes.
Cais palafítico da Carrasqueira. 

Quando apanho muito frio fico com esta cara!

Mudar de roupa rapidamente e para dentro dos sacos cama que o vento não está para brincadeiras.




Mais um amanhecer glorioso! 
M

Maré vazia... daqui a umas horas isto é um mar enorme.


Os canais no lodo que é preciso conhecer para chegar aqui, estão assinalados com canas, de dia não é fácil, à noite é impossível.


O nosso magnifico hotel, é a segunda vez que aqui durmo. É simplesmente fantástico, parece aqueles hotéis na Indonésia em cima do mar azul... hehehehe.
Há uns anos atrás veio aqui o Cavaco e os locais construíram isto para o receber, depois numa noite de vendaval metade do passadiço caiu, o resto vais-se mantendo de pé, mais ou menos!

Breakfast.









A Carrasqueira vale a visita, é fantástica, a aldeia, que desta vez não visitamos, é gira, até há pouco tempo havia uma lota. Os pescadores são muito simpáticos e têm boas tascas para o petisco.

A maré subiu e lá fomos nós em direção a Alcácer do Sal. O maior tirão da viagem. 26 km em 6 horas. O percurso é bonito, o rio vai estreitando, a maré ajuda nas enormes retas do principio, nas curvas do fim já se esquece de nós e começa a querer mudar de direção!
Pelo caminho vêem-se muitas aves, de salientar, patos e flamingos. Começam os enormes arrozais nas margens embora  os caniços e o facto de viajarmos ao nível da água, impeçam a sua vista.





Alcácer do Sal à vista.

O nosso amigo pescador que nos esperava no cais com muitas histórias para contar e dois robalos dentro do saco.


Tasca à vista.


Este Senhor é que pediu a comida.


É pá, somos mesmo bons nisto!!
Foi um desfilar de: salada de ovas, choco frito, navalheiras, pica-pau, batatas fritas.... Comer em Alcácer é no Café Papinhas!



Cena à filme! quando estávamos na esplanada a comer e a beber aparecem estes cotas malucos todos desgovernados e completamente encharcados de álcool. Foi uma risota, nós deles e eles de nós! Os amigos ciclistas todos os fins de semana fazem isto, vão dar uma volta de bike e depois da volta, copos até cair de cu!  Fizemos grande amizade e até ao fim da tarde todos caímos de cu!







Dormimos ali mesmo, ao lado das canoas. Ciganos!


A manhã acordou bem húmida, os corpos estavam doridos e os estômagos revoltados com a alcaria da véspera.




Mas quando a maré deixou, aí fomos nós outra vez!
Por este rio acima...
Deslizando por entre os caniços num rio cada vez mais estreito e serpenteante. Selvagem, belo!



Três horas e quinze quilómetros mais... Vale do Guiso.




À nossa espera um magnifico ensopado de enguias, encomendado por telefone desde Alcácer. Maravilha!
Nós e a nossa equipa de apoio, A Tita, a mulher do Cândido e uma amiga e o Carlos  que se prestou a ir buscar o meu carro a Sesimbra e trazê-lo com o atrelado das canoas até aqui. Thanks, amigo!




As canoas à espera que a malta acabe com as enguias enquanto a maré vai subindo




O rio Sado é espectacular.

fizemos aproximadamente  80 km de  Sesimbra  até  ao  internacional Vale do Guiso, cerca de 22 horas  a  pagaiar.

...estoupraver a próxima...

 quem alinha??

Fim da história ☺  

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